Manifestações, Ciclo Fontaínhas / S. Vítor with Teatro do Frio
Porto, Portugal
2021








Fotografia e vídeo: Paula Preto.
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Fotos dos bastidores em casa a organizar o processo: Betina Juglair.
"Manifestações é uma criação do Teatro do Frio – Pesquisa Teatral do Norte que estreou enquanto performance, na quinta-feira, 23 de setembro de 2021, integrando a programação do MEXE (6º Encontro Internacional de Arte e Comunidade) na cidade do Porto, em Portugal.
Em 2021, com Manifestações, equacionamos o processo de criação e escrita dramatúrgica a partir de um autor coletivo - o elenco, ante a presença de um outro possível e inesperado autor - o público.
Concebendo a criação artística como uma forma peculiar de diálogo interpessoal e intergeracional, o TdFrio promove o cruzamento entre diferentes criadores, investigadores, práticas artísticas e epistemológicas em todos os seus projetos de criação, investigação e edição.
A dramaturgia foi escrita após as performances e composta a partir de registos em vídeo das apresentações realizadas, procurando porém, constituir-se como texto autónomo.
Para tanto, o presente texto serve-se
de falas escritas ao vivo pelo elenco de performers Gunnar Borges, José Carretas, Maria Luís Vilas Boas, Patrícia Queirós, Sara Neves, Vahan Kerovpyan, e da escrita original do autor Diogo Liberano e de colaborações com os criadores Catarina Lacerda, Luciana Bastos, Rodrigo Malvar e Sérgio Couto."
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>>reflexão sobre O IMPROVISO e criação das palavras imagens e ilustrações de diário gráfico.
O convite para este trabalho surgiu já como uma reflexão. Sobre o não controle. Sem definição ou brieffing, uma direção sobre um mapa de um processo ainda por vir, um registo da ação criadora de uma equipa de atores. Manifestações, contrariando o formato clássico de ensaios teatrais, com textos pré definidos a serem decorados, foi um processo não hierárquico, onde atores, diretores, dramaturgo, construiram juntos. O Caos foi a partida. Ainda me sobressai a frase "O CAOS ENSINA SOBRE O AMOR". O amor, o caos, a subversão da ordem pré estabelecida, a ruptura, a liberdade e curiosidade coletiva, foram destes lugares de onde saíram as linhas guias do que viria a ser as apresentações futuras.
Mais do que uma peça, construiu-se um jogo. Jogo que reflete a vida, jogo base para o improviso, jogo de regras para a liberdade.
Me vi pela primeira vez diante de um trabalho onde eu, enquanto artista ou ilustradora, era livre para acompanhar e adentrar aquele caos. Dentre imensas palavras que saíam em fluxo da sinergia dos ensaios (facilitados por três incríveis seres), afloraram VIDAS, HISTÓRIAS, CULTURA, CONHECIMENTO, escutas, sentimento, entrega. Dovento e do sopro saíram as emoções, do ritmo e compasso, o reestabelicimento da ordem, em contrapontos cíclicos como os altos e baixos da nossa própria existência.
Eu no meu não saber, me guiei por instinto e optei também por experienciar o improviso, criei meu jogo e fui também delimitando as minhas regras, as quais, neste processo, vieram apenas como facilitadoras, para permitirem também o inesperado.
Como a própria vida, inesperada e cotidiana, criou-se a base de um jogo que acendesse a chama, criadora da vontade de fala de um público, de um ator, de um transeunte, de um pássaro, de uma planta, uma parede. Senti o fogo no frenesi das minhas mãos ao tentar desenhar palavras-sentimento de um processo -vida pulsante, guiado pelo evento de todos dias ou por um passeio no bairro, num retrato matéria prima de criação.
Artistas criam com a VIDA, permear e ser permeado por todos seres viventes. Eu na minha tentativa de organização encontrei nese processo um lugar de liberdade. Para ser e realizar, da forma que sou. Desenhar palavra, desenhar o Bonfim, bairro que reside em mim. Desenhar O CAOS, este que ensina sobre o amor.
Teatro do Frio, Porto, Portugal, setembro, 2021.