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ação // retomada à borda d'água
Porto, Portugal
2020




Retomar o lugar público de quem vive à borda d'água do rio Douro. Há anos o bairro da Ribeira é desabitado e ocupado por visitantes. O coméricio é para os visitantes, as esplanadas com vista para o Douro é para os visitantes, as gaivotas substituiram seu instinto de caça e pesca pela caça aos pratos dos visitantes... E quem ficou? Quem é o habitante da Ribeira? Durante o lockdown, quem vive ali (poucos) teve a oportunidade de rever o seu familiar rio, ali, nu, em silêncio ou em susurro mansinho. Ouvir novamente o teu som, ouvir o som das aves para além das gaivotas. Num cenário tão belo quanto desolador, ao revelar o bairro fantasma que se transformou após anos de gentrificação, a realidade escancarada pelo silêncio e vazio, a de que a história e cultura de uma região existe apenas na memória dos mais idosos que resistem e ali ainda vivem, com olhar de tristeza e abandono, ao lembrarem de um passado com tradição ribeirinha que se transformou em vazio.

Ficaram os predios reformados e vazios, as esplanadas equipadas com correntes nas mesas e os barcos de passeio estacionados.

Pensando sobre a ocupação do espaço público nesta região, convidei meus vizinhos do andar de baixo, também em lockdown comigo, a retomar o uso dos espaços usurpados pelo turismo. Resgatar o direito de tomarmos um pequeno almoço sentadas à beira do rio, com a tranquilidade de quem tem uma esplanada turistica.

A gaivota, meio confusa, também apareceu, nos observou, mas não quis usurpar nosso pão. Elas se acostumaram às francesinhas e naquele momento apenas nos olhou, como num reconhecimento ancestral.


Ribeira, Porto, Portugal. Março, 2020.